Algozes Almeri Espindola de Souza Aquele é o local onde as mulheres são mortas depois que confessam suas traições. É um espaço com areia branca, cercado de vegetação densa, próximo da margem do rio São Francisco. Dizem que é um lugar assombrado, e que à noite se ouvem gemidos e guinchos de animais. Há quem conte que são vistas pessoas andando sem cabeças, mulheres se atirando no rio com criancinhas no colo. Caem raios com muita freqüência neste lugar, razão pela qual não nasce vegetação no pedaço de areia. O lugar permanece escuro, mesmo quando a noite está iluminada pela lua cheia. Não há estrada que a ligue com o resto da terra. Parece que as pessoas chegam e saem sem deixar rastros. Só se encontram os cadáveres das mulheres mortas, com a cabeça separada do corpo. Ninguém vê nada nem vê ninguém. Apenas os corpos são encontrados. O governo contratou índios da região para fazerem plantão no local e protegerem as mulheres de seus algozes, mas num passe mágico, os índios nunca mais foram vistos e as mulheres continuaram a serem mortas, agora com requintes de crueldades ainda maiores. As duas últimas encontradas por pescadores da região, estavam ainda vivas boiando no rio sem pernas nem braços. Morreram de hemorragia. Marília aceitou o convite de um a colegas de trabalho, para fazerem uma excursão ao nordeste do país. A cidade que visitariam era o ponto de maior produção de ervas medicinais, foi o que justificou, ao ser indagada pela irmã, que estava de visita em sua casa, sobre a escolha. Marta gostou de idéia de visitar aquela região, já que mora fora do Brasil há muito tempo. Arrumaram as malas com simplicidade. Repelente de insetos, um par de chinelos, um chapéu, blusas finas de mangas longas, calças compridas para protegerem-se dos perigos da região. A organização da excursão reiterou que lá havia muitos insetos e animais selvagens e que o sol era torrente, por isso precisavam de precaução. Despediram-se, numa sexta-feira pela manhã. O avião as deixaria numa cidadezinha próxima, e para o local pretendido por Marília, precisariam arranjar alguma carona, já que não havia meios de transporte coletivo. E a excursão tinha outro roteiro. Sua colega de trabalho resolveu que ficaria na cidade num hotel próximo do aeroporto, pois estava com indisposição intestinal e não quis arriscar-se na aventura. O restante do grupo saiu para os passeios de barco no rio São Francisco. Saíram a pé, quando o sol ainda estava alto. Não levaram bolsa, documentos, nada além do que vestiam. Apenas um cantil com água de beber. Marta nem água quis levar. Marília retornou na manhã do dia seguinte e, ao encontrar a amiga hospitalizada com doença intestinal séria, se ocupou de cuidar do tratamento da mesma e, com isso despistou o restante dos viajantes da excursão. Passaram-se seis meses. O zelador do prédio onde Marilia mora deu-se conta de que a moça que estava no jornal cuja vida ficara na “Asa da Mosca”, era a visitante que se hospedara no apartamento 11 e que ele logo percebeu tratar-se de uma irmã de Marília, tal semelhança que havia entre as duas. Viu que elas haviam saído juntas naquele mês de março e somente Marília voltara para casa. Ele lembrou, então, das tantas conversas que manteve com a vizinha do ap 11, das suas queixas de que Marta havia lhe roubado. Ela falava com rancor sobre a vida que a irmã levava. Os olhos de Marília faiscavam de raiva ao comentar que a irmã escapou da falência da família quando casou na Europa e, não satisfeita, lhe roubara tudo o que, por amor, tio Doca lhe deixara, usando documentação falsa, e a astúcia que a experiência no primeiro mundo lhe permitiu. Seu Zeca, como era carinhosamente chamado no edifício, comentou então com sua esposa, que conversavam sempre mas ela nunca falou com ele sobre aquela moça nem sobre a viagem. Marcadores: textos de oficina literária | d |
quinta-feira, 8 de julho de 2010
ALGOZES
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