domingo, 25 de setembro de 2011

GHANDI - Sua Vida e Mensagem para o Mundo - Louis Fischer

     [.......] Perpétuo reformador de homens, Ghandi aceitava-os, não obstante, como eles eram. O amor tornava-o indulgente. Possuía um código extremamente rigoroso de conduta para seu próprio uso, e outro código, indulgente, para aplicar aos outros. Vivia em feliz harmonia com os homens e as mulheres por ele convidados a fazer parte do ashram, mas que não acreditavam em Deus, nem na não violência, nem na castidade, nem nele mesmo. Na verdade, encorajava a rebelião e o não conformismo, considerando-os como sendo recursos auxiliares no desenvolvimento do indivíduo. A deslealdade para com ele nunca o perturbava; perturbava-o porém, a deslealdade para com princípios.
     A universal deslealdade para com os princípios, sob todos os sistemas sociais, se deve ao custo deles. Sob a ditadura o custo pode ser a morte; numa democracia, o desconforto e o embaraço. Ghandi estava pronto a pagar, fosse qual fosse o preço dos princípios pelos quais se batia. Quanto mais pobre ele fosse, de bens materiais, tanto mais ele poderia pagar. E tanto mais rico o pagamento o deixaria em moeda do espírito, que era a única moeda a que ele atribuía valor.
     Ghandi alimentava a mesma atitude nos outros. Dizia aos seus associados, que sacrificassem suas relações e seus contatos com ele, em nome e em benefício de suas próprias crenças. Ele não chefiava apenas um movimento, fazendo esforços para o seu bom exito; estava forjando uma nação, pela moldagem de homens. Se estava para ser pai de uma nação, então queria ter filhos gigantes.Quando defrontado pela oposição, no partido do Congresso, ou no círculo das pessoas mais chegadas, no ashram, Ghandi, por vezes, cedia a ela,muito embora pudesse facilmente superá-la; respeitava a divergencia. Esse respeito é o maior signo de masculinidade. De uma feita, numa conferencia sobre educação básica, todos os participantes concordaram com Ghandi, exceto Zakir Hussain, mestre-escola muçulmano. Ghandi nomeou-o presidente da sociedade em prol da educação básica. A força de vontade do Mahatma , juntamente com sua fé fanática nos princípios, poderia te-lo transformado em ditador; ele tinha um vínculo de ditador dentro de si, mas o seu interesse na formação de indivíduos o tornava democrata.
     Consequentemente, o séquito de Ghandi se fez grande , diverso e difuso, Sua personalidade atraía também uma ampla série de líderes. [......]
   
                                                Ghandi com Chaplin em Londres 1931
 [....] O Mahatma Ghandi não amava a humanidade em sentido abstrato; amava os homens, as mulheres, as crianças; e esperava auxiliar a todos, como indivíduos específicos, e como grupos de indivíduos. Ele pertencia lhes; eles sabiam disto; e, por isto, pertenciam a ele. Por dar guarida ao desleal, ele desfazia a deslealdade. A sua lealdade provocava a deles. Desta maneira, durante os piores anos de derrota e de depressão, de 1924 a 1929, ele se preparou para os triunfos ulteriores. A Índia, agora, o chamava "Bapu" - Pai.


Punhados da Biografia de Ghandi, "Eis aqui a vida e a mensagem do líder hindu que com a força da não violência, libertou politicamente sua nação do jugo britânico." Livro GHANDI- Sua Vida e Mensagem para o Mundo - Louis Fischer - Título do original norte americano GHANDI - His Life and Message for the World by Louis Fischer.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Os Primeiros Ensaios: Sobre o Amor- Woody Allen

     É melhor amar ou ser amado? Nenhum dos dois, se a sua taxa de colesterol estiver acima de 600. Pelo amor, naturalmente, refiro-me ao amor romântico - por exemplo entre homem e mulher, e não aquele entre mãe e filho, uma criança e seu cão ou entre dois garçons.
     O maravilhoso da coisa é que, quando se ama, tem se um impulso de cantar. Deve-se resistir a isto a todo custo, tomando cuidado também para que o ardente apaixonado não "diga" as letras das músicas. É evidente que ser amado é diferente de ser admirado, já que sempre se pode ser admirado a distância - enquanto, para se amar de verdade uma pessoa, é preciso estar no mesmo quarto com ela e, de preferência, enrolado atrás das cortinas.
     Para ser um grande amante, deve-se ser forte e, ao mesmo tempo, terno. Mas forte até que ponto? Acho que basta conseguir levantar 30 kilos. É preciso também ter em mente que, para quem ama, a mulher amada é sempre a coisa mais linda do mundo, mesmo que, para um estranho, ela seja indistinguível de um prato de mexilhões. A beleza está em quem vê. Se quem vê for míope ou estrábico deve perguntar à pessoa ao lado qual é a garota mais bonita. (Na realidade, as mais bonitas são geralmente as mais burras, e esta é uma das razões pelas quais muita gente não acredita em Deus).
     "As alegrias do amor duram apenas um instante", cantou o bardo, "mas suas dores duram uma eternidade". Esta canção tinha tudo para fazer sucesso, mas a melodia era muito parecida com a de I'm a Yankee Doodle Dandy.

Do Livro Woody Allen Sem Plumas, tradução de Ruy Castro, este livro traz 18 textos de formatos variados- peças, ensaios, contos, argumentos e outras improbabilidades - que tem em comum a imaginação e o humor característico de Allen.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

domingo, 18 de setembro de 2011

MILONGA DE DOS HERMANOS - Jorge Luis Borges - Para las seis cuerdas

                                                    Ilustración de Héctor Basaldúa


Traiga cuentos la guitarra
de cuando el fierro brillaba,
cuentos de truco y de taba,
de cuadreras y de copas,
cuentos de la Costa Brava
y el Camino de las Tropas.

Venga una historia de ayer
que apreciarán los más lerdos;
el destino no hace acuerdos
y nadie se lo reproche -
ya estoy viendo que esta noche
vienen del Sur los recuerdos.

Velay, señores, la historia
de los hermanos Iberra,
hombres de amor y de guerra
y en el peligro primeros,
la flor de los chuchilleros
y ahora los tapa de la tierra.

Suelen al hombre perder
la soberbia o la codicia;
también el coraje envicia
a quien le da noche y día -
el que era menor debía
más muertes a la justicia.

Cuendo Juan Iberra vio
que el menor lo aventajaba
la paciencia se le acaba
y le armó no sé qué lazo
le dio muerte de un balazo
allá por la Costa Brava.

Sin demora y sin apuro
lo fue tendiendo en la vía
para que el tren lo pisara.
El tren lo dejó sin cara,
que es lo que el mayor quería.

Así de manera fiel
conté la historia hasta el fin;
es la historia de Caín
que sigue matando a Abel.




Do livro, Para las Seis Cuerdas - Jorge Luis Borges- Emecé Editores- Ilustraciones Héctor Basaldúa- Este livro foi publicado pela primeira vez em 1965. A segunda edição em 1970, Borges suprimiu "Alguien le dice al tango" e anexou três novas composições "Milonga de Albornoz", "Milonga de Manuel Flores" y"Milonga de Calandria".Esta é a terceira, o ilustrador proporcionou alguns "dibujos" de seu pai, já falecido para reproduzir nesta edição, que é uma homenagem ao décimo aniversário de falecimento de Borges.