quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Os Primeiros Ensaios: Sobre o Amor- Woody Allen

     É melhor amar ou ser amado? Nenhum dos dois, se a sua taxa de colesterol estiver acima de 600. Pelo amor, naturalmente, refiro-me ao amor romântico - por exemplo entre homem e mulher, e não aquele entre mãe e filho, uma criança e seu cão ou entre dois garçons.
     O maravilhoso da coisa é que, quando se ama, tem se um impulso de cantar. Deve-se resistir a isto a todo custo, tomando cuidado também para que o ardente apaixonado não "diga" as letras das músicas. É evidente que ser amado é diferente de ser admirado, já que sempre se pode ser admirado a distância - enquanto, para se amar de verdade uma pessoa, é preciso estar no mesmo quarto com ela e, de preferência, enrolado atrás das cortinas.
     Para ser um grande amante, deve-se ser forte e, ao mesmo tempo, terno. Mas forte até que ponto? Acho que basta conseguir levantar 30 kilos. É preciso também ter em mente que, para quem ama, a mulher amada é sempre a coisa mais linda do mundo, mesmo que, para um estranho, ela seja indistinguível de um prato de mexilhões. A beleza está em quem vê. Se quem vê for míope ou estrábico deve perguntar à pessoa ao lado qual é a garota mais bonita. (Na realidade, as mais bonitas são geralmente as mais burras, e esta é uma das razões pelas quais muita gente não acredita em Deus).
     "As alegrias do amor duram apenas um instante", cantou o bardo, "mas suas dores duram uma eternidade". Esta canção tinha tudo para fazer sucesso, mas a melodia era muito parecida com a de I'm a Yankee Doodle Dandy.

Do Livro Woody Allen Sem Plumas, tradução de Ruy Castro, este livro traz 18 textos de formatos variados- peças, ensaios, contos, argumentos e outras improbabilidades - que tem em comum a imaginação e o humor característico de Allen.

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