Pequei Senhor: mas não porque hei pecado,
Da vossa alta piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, já cobrada,
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,
Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Gregório de Matos Guerra ( 1623 - 1696) - Nasceu em Salvador, passou a infância na Bahia e doutorou-se em leis em Coimbra. Sua veia satírica valeu-lhe a alcunha de "Boca do Inferno". Chegou a ser deportado para Angola, mas conseguiu voltar, indo viver no Recife, onde retomou seu modo de vida habitual, zombando de tudo e de todos . Escreveu poesias líricas, religiosas e satíricas, cronologicamente o primeiro poeta satírico brasileiro.
Da vossa alta piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, já cobrada,
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,
Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Gregório de Matos Guerra ( 1623 - 1696) - Nasceu em Salvador, passou a infância na Bahia e doutorou-se em leis em Coimbra. Sua veia satírica valeu-lhe a alcunha de "Boca do Inferno". Chegou a ser deportado para Angola, mas conseguiu voltar, indo viver no Recife, onde retomou seu modo de vida habitual, zombando de tudo e de todos . Escreveu poesias líricas, religiosas e satíricas, cronologicamente o primeiro poeta satírico brasileiro.