terça-feira, 2 de novembro de 2010

PACTO - Carmem Borja

        Um metro e sessenta de porte, os cabelos soltos por trás da tiara marfim, grandes óculos de sol cobrem uma parte da face. O cheiro de combustível misturado com matéria fecal rescende do asfalto sob o sol das 13h, faz o seu rosto da cor carmim. Ela deixou o trem rapidamente, o tempo é mais rápido que os braços e pernas na dança das espadas, pensa Miríade. Os pés escorregam pelo couro das sandálias, como se fossem sair descalços no burburinho do calçamento. Ao ver a vendedora de agulhas com a sua roupa colorida, lhe vem a mente o palavreado repetitório:
         _  Há de ser assim, não tem mais como mudar.
         Mas o restante da frase apaga-se em sua mente, somente o desconforto da calça jeans roçando em sua pele lhe traz de novo a paisagem da rua.
          Vestimentas nada a ver com ela. É como se estivesse sempre fantasiada de um ocidentalismo prático, que macera sua pele e seu espírito {......}
           Miríade senta cerca a mesa, passa as mãos entre uma e outra e após na calça. Ao toque de um relógio começa a fitar o ambiente: relógios antigos, baús, pratos de bronze, uma prateleira cheia de rádios, gramofones, vitrolas, e no lado esquerdo, um quadro encostado ao chão e, na parede, uma odalisca turca, com seus braços cheios de pulseiras, arrebata uma cena de mercado persa................

Nem Todas as Palavras - Lançamento 56ª Feira do Livro
          

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