quinta-feira, 17 de junho de 2010

Guerreiros Coroados






 Pedra sobre pedra, os pés afundam na sutil discrepância de feitios. Onde dantes corria a água, agora trafegam os passos, no intenso e harmonioso vazio de seixos redondos, rotundos, inconsequentes, de quando em vez a água surge como dançarina, esculpindo formas, ocupando espaços. No regaço dos canions as araucárias ataviando as encostas na sua forma de grandes cálices verdes.
  A sensualidade da natureza, o cheiro molhado do musgo que se gruda na pedra, tal qual tivesse nascido desta, alguns troncos caídos sobre o caminho, de há muito suas raízes foram escavadas pela correnteza, ornados agora por urupês jazem sobre o basalto como esculturas.
  No topo da Serra do Faxinal, entre a cumeeira dos Canions, Malacara e Índios Coroados, avançávamos no nosso trekking, por sobre terrenos vulcanicos, na presença das cascastas do Rio Malacara. Aqui habitaram os indomáveis coroados, dizem que "ferozes e sanguinários, robustos, musculosos, os padres ensinaram os guaranis a chamá-los de curupira, ou seja diabo do mato. E então por esses campos de cima da serra, homens e mulheres bem torneados, em sua nudez, desprovida de qualquer objeto decorativo, tinham os cabelos tonsurados, de maneira a ficar uma rodilha de cabelo enfiada em uma cabeça calva. Retiravam o cabelo das sobrancelhas, das pestanas, da barba, do púbis e de todas as regiões do corpo onde estes existissem.De um tom de pele mulato escuro, aqui viviam nossos coroados do Sul". Então dizem as más línguas que eram ferozes , mas eu aqui me pergunto, o que foi feito a eles para se tornarem sanguinários, estavam defendendo a sua singeleza natural, a sua nudeza pagã? Ou mesmo oferecendo resistência na defesa de sua terra, sua cultura. Ah! esses nossos bugres que habitavam as matas, diz-se que quando o primeiro homem branco foi avistado o sinal de alerta dado por eles à tribo era um grito agudo, que silvava nestas alturas, no qual se ouvia perfeitamente a palavra "bugre".


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